Como Ler e Usar um Rider Técnico - 35mm

Como Ler e Usar um Rider Técnico: Guia Prático para Técnicos de Som

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Já chegaste a um local para montar som e percebeste que metade do equipamento pedido não está disponível? Ou pior, que ninguém leu o rider e nada está preparado? O rider técnico existe para evitar  isto mesmo. É o documento que define as necessidades técnicas de uma banda ou artista e funciona como o manual de instruções para garantir que tudo corre bem no dia da atuação.

Para técnicos de som, saber interpretar e usar um rider eficazmente não é opcional, é essencial. É o que transforma caos em organização, improviso em profissionalismo e soundchecks intermináveis em montagens fluidas. Vamos descobrir como ler, interpretar e aplicar este documento fundamental na produção de espetáculos ao vivo.

O que é um rider técnico?

Um rider técnico é um documento detalhado que especifica todas as necessidades técnicas de uma banda, artista ou produção para uma atuação ao vivo. Funciona como um contrato técnico onde o artista comunica exatamente o que precisa e o local/promotor confirma se consegue fornecer. O rider é enviado antes do evento para permitir preparação adequada e evitar surpresas no dia.

Importante distinguir: existe o rider técnico (foco em equipamento, som, luz, palco) e o rider de hospitalidade (catering, alojamento, dressing room). Como técnico de som, o teu foco é exclusivamente o primeiro. O rider técnico é a tua bíblia para a montagem, tudo o que precisas de saber sobre como montar, testar e operar o som está lá.

Elementos típicos de um rider técnico de som

Um rider completo contém várias secções. Vamos decompor cada uma.

  • Lista de canais (channel list ou input list): Especifica cada canal necessário na mesa de mistura. Normalmente surge como tabela com número de canal, instrumento/fonte, tipo de microfone sugerido e observações. Exemplo: CH1, Kick, Beta 52 ou similar, gate; CH2, Snare Top, SM57, compressão; CH3, Vocal Principal, SM58, reverb.
  • Input/Output Patch: Detalha como os sinais fluem. Que canais vão para que inputs da mesa, que outputs vão para monitores, que auxiliares são necessários. Essencial para planeares a cablagem antes da banda chegar.
  • Mapa de palco (stage plot): Representação visual do palco vista de cima. Mostra onde cada músico se posiciona, onde vão monitores, microfones, amplificadores, DI boxes. É o teu blueprint para montagem física. Sem isto, andas às apalpadelas.
  • Equipamento necessário: Lista de gear que o local deve fornecer. PA system (especificações de potência, tipo de colunas), monitores (quantos, tipo), microfones específicos, DI boxes, pedestais, cabos, processamento (compressores, gates, reverbs), consola (analógica/digital, número de canais). Aqui também mencionam backline se aplicável: amplificadores, bateria, teclados.
  • Necessidades específicas: Posição do técnico FOH e distância ao palco, necessidade de comunicação via headset ou talk-back, requisitos de energia eléctrica, tempos de montagem e soundcheck, número de pessoal técnico necessário.
  • Observações adicionais: Qualquer exigência especial, preferências do artista, links para ouvir a música (para o técnico se familiarizar com o som), contactos da equipa técnica da banda.

Como interpretar cada parte do rider

Saber o que está no rider é uma coisa. Compreender como aplicá-lo é outra.

  • Ler a lista de canais: Esta é a tua ordem de trabalho. Cada linha é um input que precisas de preparar. Nota o tipo de microfone sugerido, se há alternativa aceite (“ou similar”), que processamento querem (compressão, gate, EQ específico, efeitos). Organiza mentalmente a montagem: quantos microfones de bateria, quantos vocais, quantos DIs para teclados/baixo. Se a lista diz CH15, Backing Vocal 2, SM58, delay subtil, sabes exatamente o que fazer.
  • Visualizar e montar com o stage plot: Imprime o stage plot e usa-o como mapa. Marca no chão com fita-cola as posições dos músicos se necessário. Coloca pedestais onde indicado. Posiciona monitores conforme o desenho. O stage plot também te diz onde passar cabos, comprimento necessário, se precisas de multicore em palco. Se o baterista está no centro fundo e o vocalista à frente esquerda, sabes como distribuir tudo.
  • Cruzar o patch list com equipamento disponível: Compara o que pedem com o que tens. Pedem 8 monitores e tens 6? Precisas de avisar antes. Querem uma consola digital X32 e tens uma analógica? Problema. Faz esta verificação assim que recebes o rider, não na manhã do concerto. Se há incompatibilidades, contacta a produção/banda imediatamente para encontrar soluções.
  • Organizar o soundcheck: A ordem dos canais no rider facilita o soundcheck. Começas pela bateria (normalmente os primeiros canais), depois baixo, guitarras, teclados, vocais. Segue a ordem lógica que o rider sugere. Alguns riders até especificam duração de soundcheck esperada, usa essa informação para gerir tempo.
  • Adaptar o rider à realidade do local: Nem sempre tens tudo. Pedem um Neumann KMS 105 para vocal e só tens Shure Beta 58? Usa o Beta 58 e avisa. O importante é comunicar. Muitas vezes o rider é aspiracional, refletindo o setup ideal mas com margem para adaptações. A chave é nunca improvisar sem informar.

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Boas práticas ao usar um rider

Aqui separa-se o técnico amador do profissional.

  • Ler com antecedência: Assim que recebes o rider, lê-o. Não esperes pelo dia do concerto. Identifica potenciais problemas, equipamento em falta, dúvidas. Faz anotações, cria checklists. Quanto mais preparado, mais suave corre.
  • Comunicar proativamente: Se algo não é possível, fala logo. “Não temos subwoofer mas temos PA full-range com boa resposta de graves, funciona?” Dá alternativas. A comunicação prévia evita frustrações no dia. Muitas bandas são flexíveis se avisadas com tempo.
  • Confirmar atualizações: Pergunta se o rider está atualizado. Bandas mudam setups, adicionam membros, trocam instrumentos. Um rider de há seis meses pode estar desatualizado. Confirma sempre que tens a versão mais recente.
  • Ser flexível e criativo: Às vezes precisas de adaptar. Não há exatamente o microfone pedido? Qual o mais próximo que tens? Não há monitores suficientes? Podes usar in-ears se a banda tiver? Flexibilidade inteligente, sempre comunicando mudanças, é sinal de bom técnico.
  • Verificar tudo antes da chegada: Monta com antecedência. Testa todos os canais, confirma que os monitores funcionam, verifica cabos. Quando a banda chega, tudo deve estar pronto para line check rápido. Nada pior para uma banda do que chegar e nada estar montado.

Desafios comuns e como resolvê-los

A realidade raramente é perfeita. Vamos aos problemas típicos.

  • Rider desatualizado ou incompleto: Acontece mais do que imaginas. Faltam informações críticas, há contradições, o stage plot não bate com a lista de canais. Solução: contacta a banda/tour manager. Pede esclarecimentos específicos. Faz perguntas diretas: “Quantos monitores precisam realmente? O teclado precisa de DI ou sai direto?” Não assumes, pergunta.
  • Equipamento pedido não disponível: O clássico. Querem 12 canais de bateria e tens 8 microfones. Ou pedem uma mesa digital específica que não tens. Solução: comunica imediatamente que recebeste o rider. Explica o que tens disponível, propõe alternativas. Muitas vezes consegues negociar (“podemos alugar os 4 microfones extra, há budget?”) ou encontrar workarounds (usar overheads em vez de micar todos os tons).
  • Falta de tempo para montar: Evento anterior atrasou, banda chega tarde, tens 30 minutos para montar em vez de 2 horas. Solução: prioriza. Monta PA e monitores primeiro. Microfones de bateria e vocais principais são críticos, o resto pode ser ajustado durante o soundcheck se necessário. Comunica à banda que o tempo é curto e o soundcheck será rápido.
  • Stage plot não reflete realidade: O desenho mostra 5 músicos mas aparecem 6. Ou as posições estão todas trocadas. Solução: mantém calma e adapta. Pergunta ao tour manager ou músicos como querem realmente montar. Usa o rider como ponto de partida mas ajusta conforme a realidade. Anota mudanças para próximas vezes se forem recorrentes.
  • Problemas de comunicação: Banda não fala português/inglês fluentemente, rider está noutro idioma, instruções confusas. Solução: usa linguagem universal. Mostra fisicamente, aponta para equipamento, usa desenhos. A maioria dos músicos e técnicos entendem-se bem com gestos e termos técnicos básicos. No pior caso, usa tradutor no telemóvel.

A importância da comunicação e preparação

No final, tudo se resume a isto: comunicação e preparação fazem a diferença entre um concerto que funciona e um desastre técnico.

  • Comunicação é bidirecional: Não te limites a receber o rider e executar. Faz perguntas, oferece sugestões, informa sobre limitações. A banda quer que corra bem tanto quanto tu. Se fores transparente e proativo, ganhas respeito e colaboração.
  • Preparação elimina improviso: Quanto mais preparares com base no rider, menos improvisas no dia. Improviso sob pressão raramente resulta bem. Planeia a montagem, testa equipamento, confirma funcionamento. Quando a banda chega, estás confiante porque já pensaste em tudo.
  • O rider é uma ferramenta, não uma lei: Usa-o como guia mas adapta à realidade. Nem todos os riders são perfeitos, nem todos os locais têm tudo. A tua competência está em interpretar o rider, perceber a intenção por trás dos pedidos e entregar a melhor solução possível com os recursos disponíveis.
  • Documentar para futuras atuações: Se a banda volta regularmente, anota as adaptações que fizeste, o que funcionou, o que não funcionou. Cria o teu próprio registo. Para a próxima atuação já sabes exatamente o que fazer e melhoras ainda mais.

Saber ler e usar um rider técnico é competência essencial para qualquer técnico de som profissional. Não é apenas seguir instruções, é interpretar necessidades, antecipar problemas e criar soluções. É garantir que quando as luzes se apagam e a música começa, tudo funciona perfeitamente porque fizeste o teu trabalho bem.

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Canal a canal, input a input, constrói atuações que funcionam. Porque no final, quando o público aplaude, parte desse sucesso é teu. Trabalhaste nos bastidores, leste o rider, montaste tudo, testaste cada canal. E quando tudo corre bem? Ninguém nota o teu trabalho. E isso é exatamente como deve ser. O bom técnico é invisível. Mas sem ele, nada acontece.

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